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Show em Fortaleza: O início da Nova Era do Angra !

publicado
11/05/2009

Fortaleza foi o local escolhido para a abertura da turnê de retorno do Angra, que em outras cidades contará também com apresentação da banda Sepultura. No Ceará, por motivos de “incompatibilidade de agenda”, segundo a produção, o Angra se apresentou sozinho como atração principal e um show do Sepultura ficou agendado para agosto.
Se o encontro histórico das maiores bandas de Metal do Brasil não foi possível em Fortaleza, a Capital ganhou uma apresentação mais longa e densa do Angra, um apanhado dos 18 anos de história do grupo. Após a suave atmosfera azul de “Unfinished Allegro”, instrumental de abertura do show, a banda se volta ao público com o clássico “Carry On”, música de seu primeiro CD. Em uma canção que falava de um mundo tão insistente em ser o mesmo, baseado em erros, noites desestreladas e de tempestade, a promessa emocionada do público que lotou a casa de shows Siará Hall: “but can't you see? I'm by your side / We are marching on!” Que outra música poderia traduzir melhor todo o momento?
Talvez a enérgica “Nova Era”, anunciando de vez mais um amanhecer na trajetória do Angra, tão cheia de idas e vindas. Diante de uma platéia ainda muito agitada, Edu Falaschi conduziu bem a invocação por novos tempos no horizonte do grupo. Em vários momentos, Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro e Felipe Andreoli foram à beira do palco e entoaram com muita força a música junto aos fãs. Mais que executar dois dos mais populares sucessos do Angra, a escolha por essas músicas na abertura do show – tocadas em seqüência, como se fossem apenas uma – tinham visivelmente um caráter simbólico do que a turnê representa na história da banda.
Após as duas músicas vindas de momentos tão diferentes e que se fundiram para contar um pouco sobre dois anos de incertezas – culminados naquele encontro entre a banda e os fãs, a inspiração e as fontes, a espera e os motivos de tudo –, Edu fala do retorno aos palcos. Retomando a importância do Nordeste na cena Metal do Brasil, ele agradece todo o apoio, puxa a “Waiting Silence” para em seguida anunciar o retorno do baterista Ricardo Confessori, membro do início da formação do Angra que havia deixado a banda em 2000 para formar o Shaman, ainda em atividade. Os fortalezenses recepcionam calorosamente o novo-antigo integrante, e Confessori retribui com uma ótima execução de “Heroes of Sand”.
De volta ao primeiro álbum, de 1993, vem a “Angel’s Cry”, seguida dos longos solos de “Carolina IV”, demonstrando uma perfeita interação entre as guitarras de Rafael e Kiko, os dois integrantes que estiveram ininterruptamente na banda desde o início.
Com “Angels and Demons” e “Metal Icarus”, mais Heavy para os headbangers. “The Course of Nature” foi a única música tocada do álbum “Aurora Consurgens”, o mais recente lançado pelo grupo, em 2006, e cuja divulgação foi interrompida pelos problemas que resultaram no intervalo forçado. “Make Believe” foi a balada escolhida para trazer um tom de calma àquela madrugada de neblina. Depois, a vez de “Acid Rain” e da talvez inesperada “Never Understand”.
Mas não importa se o show é de pop rock, doom metal ou salsa: sempre tem aquele cara que, bêbado ou não, de brincadeira ou não, grita num breve silêncio entre músicas: “Toca Raul!” Nos shows do Angra (ou do Almah, enfim, em qualquer local em que o Edu esteja presente aos palcos), o correspondente desse brado é o “Saint Seyaaaaaaaaa!” E nesse caso, o pedido não tem a discrição de um pedaço de guardanapo amassado com o nome de uma música dentro, não tem a espontaneidade do cara que invoca o Malucão com um golpe de cerveja no ar. Não. É o clamor de um enorme grupo, aparentemente organizado, que em geral consegue puxar o coro do público inteiro.
Exceto nas apresentações em eventos de anime, a banda não costuma tocar a canção “Pegasus Fantasy” em shows. Porém, naquele show-comemoração não havia clima de não atender ao pedido de tantos fãs, e Edu lembrou a capella a abertura de Cavaleiros do Zodíaco, com direito a mosh de um garoto da platéia.
“Gentle Change” foi a última antes do tradicional bis, e Angra retornou aos palcos com a força de “Spread of Fire”. A banda saiu dos palcos mais uma vez, arrancando o grito “Olê, olê, olê, olê, Angra, Angra”. Como no clipe, a música seguinte ao chamado é “Rebirth”, marcando o momento que sem dúvida foi o clímax do show: Bittencourt dedilhando na guitarra a canção dentro de uma luz azul e muita fumaça de palco. Edu fazia apenas a segunda voz durante as duas primeiras estrofes, cantadas integralmente pelos fãs. Mais uma canção com grande significado para o momento, com letras sobre renascimentos de dentro das cinzas e sobre tempos de voar.
Depois de tudo, um dispensável “terceiro bis” de “Nothing To Say” – dispensável não pela qualidade da música ou da execução dela, mas sim porque, após o momento encantador de “Rebirth”, nada mais parecia haver a ser dito.
Um show memorável com algumas pequenas e já usuais falhas, como a abertura dos portões com uma hora e meia de atraso. Embora isso tenha atrasado “apenas” em pouco mais de meia hora o show principal, acabou comprometendo a performance dos ótimos e divertidíssimos Walking Back To Hell, banda de “beer’n’roll formada por lenhadores bêbados”, de acordo com definição oficial dos próprios integrantes. Com algumas músicas próprias e covers como Manowar, W.A.S.P e Judas Priest, o primeiro show da noite fez valer a pontualidade de quem entrou mais cedo. Além deles, a banda Samhainfall se mostrou segura numa apresentação que também trouxe seu peso à noite.

Por Lucíola Limaverde

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